Como funcionam os contratos, trocas e negociações na MLB

Assim como em qualquer esporte coletivo, os times de beisebol devem ter um bom planejamento e gerenciamento, sabendo agir de acordo com o orçamento da franquia para montar uma equipe competitiva.

Na MLB, todos os times têm condições de contar com bons jogadores em seu elenco, seja por meio de contratações das grandes estrelas por clubes maiores (capazes de pagar altos salários) ou jovens talentosos adquiridos em trocas ou draft. Existem, no entanto, alguns termos e algumas regras um pouco complexas. Vamos entender melhor como funciona o mercado da Major League:



– Como funcionam os contratos na MLB
– Anos de contrato
– Valores de contrato
– O que é “No-Trade Clause”?
– O que são “Options”? Como funcionam?
– O que é “Buyout”?
– As trocas na MLB
– O que são os “Free Agents”?
– Como funcionam as “Qualifying Offers”?
– O que é “Arbitration”?
– Como funciona o Draft da MLB

CONTRATOS

Os contratos na MLB apresentam algumas informações sobre as condições entre o jogador e o clube. As principais são:

Anos
O número de anos em que o clube terá controle sobre o jogador. Por exemplo, se um jogador fecha um contrato de 2 anos antes da temporada 2015, significa que ele ficará sob o controle do clube durante 2015 e 2016.

Valor
O valor em dólares a ser pago ao jogador pelo clube com quem tem contrato. Dentro deste valor, podem estar inclusos bônus por performances, além do salário.

No-Trade Clause
Cláusula presente em alguns contratos. Uma “No-Trade Clause” indica que o jogador não pode ser trocado para times que estejam nesta cláusula. Por exemplo, um arremessador do Washington Nationals tem uma “No-Trade Clause” em que são listados Philadelphia Phillies e Atlanta Braves. Então, os Nationals poderão trocá-lo para qualquer um dos outros 27 times, menos Phillies e Braves.
Existe a possibilidade de ser uma “Full No-Trade Clause”, que impede que o jogador seja trocado para qualquer outro time.

Options
Em alguns casos, um contrato pode apresentar uma “opção”. Assim, um jogador poderá estender seu período com o clube, por um valor pré-estabelecido. As options são divididas em:

> Club: o time decide se vai querer continuar com o jogador ou não. Por exemplo, em 2015, um jogador tem contrato de um ano e US$3 milhões com uma “club option” de US$5 milhões para 2016. O time tem o poder de decidir se quer ou não o atleta para 2016. Caso queira, pagará os US$5 milhões.

> Player: o jogador decide se permanecerá ou não. Por exemplo, um jogador tem contrato de 5 anos com uma “player option” para um possível 6º ano por US$1 milhão. Ao final dos 5 anos, o jogador tem o poder de decidir se ficará na equipe por mais uma temporada ou não. Caso não queira, poderá ir para qualquer outra equipe, porém não receberá US$1 milhão referente a option.

> Mutual: time e jogador devem entrar no consenso. Caso uma das partes não queira exercer a opção, o jogador ficará livre para negociar com outro clube.

> Vesting: a opção só é exercida caso o jogador atinja alguns números pré-estabelecidos no contrato. Por exemplo, em 2015 um arremessador fecha um contrato de 2 anos e US$14 milhões com o Tampa Bay Rays, com uma “vesting option” de US$10 milhões para 2017, que exige que ao longo das 2 temporadas ele acumule 400 entradas arremessadas. Caso o pitcher consiga atingir 400 entradas somando os desempenhos de 2015 e 2016, ele automaticamente receberá os US$10 milhões e continuará com o clube em 2017. Caso não chegue a tal número, ele não terá mais nenhum vínculo com o time e se tornará um Free Agent.
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Buyout
Na maioria das vezes que um contrato tem uma “Option”, também existe um buyout. Essa é uma taxa a ser paga caso o clube não utilize a “option”. Por exemplo, um rebatedor tem um contrato de 3 anos com uma “club option” para um 4º ano no valor de US$2 milhões e um buyout de US$50 mil. Caso o time não queira o jogador por mais um ano, ele pagará ao mesmo os US$50 mil e esse rebatedor estará livre para assinar com qualquer outro clube.

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TROCAS

Trocas de jogadores entre times são bastante comuns na MLB. Em geral envolvem duas equipes, porém nada impede que três ou mais sejam envolvidas. As trocas entre dois times podem ser:
– um jogador x um jogador
– um jogador x dois ou mais jogadores
– dois ou mais jogadores x dois ou mais jogadores

Além disso, trocas também podem envolver quantias em dinheiro, que em geral, são baixas.
Outro acordo que pode ser feito é um time trocar um jogador e continuar pagando parte de seu salário. Em geral, isso ocorre em casos nos quais jogadores causam problemas ou têm desempenhos ruins e, por terem contratos grandes, prejudicam suas equipes e são difíceis de ser trocados. Por isso, o clube prefere pagar uma parte do salário e se livrar do atleta do que continuar com ele sendo um problema para o time.
Por exemplo, em 2012, Carlos Zambrano foi trocado do Chicago Cubs para o Miami Marlins. Seu salário era de US$18 milhões nesse ano. Os Cubs pagaram US$15.5 milhões, mesmo que Zambrano não fizesse mais parte do time, pois queriam que ele saísse da franquia de qualquer forma.

Os times têm o direito de trocar seus jogadores sem o consentimento dos mesmos. Exceções são os atletas que se encaixam na “10 and 5 rule”, que são aqueles que acumulam pelo menos 10 anos na MLB sendo os últimos 5 no mesmo clube. Nesse caso, o jogador só será trocado se ele aceitar ir para outro time.
Também há a possibilidade da existência de uma “no-trade clause” no contrato.

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FREE AGENCY

Quando um jogador atinge o “Free Agency”, ele pode negociar um contrato com qualquer outro time sem depender de um acordo com a equipe que tinha seu contrato anterior. Para tornar-se um Free Agent, o jogador deve apresentar um dos dois casos:
– Ter pelo menos 6 anos de serviço na MLB, sendo no 25-man roster ou na Disabled List, e o contrato com seu time expirou;
– Mesmo que não tenha atingido 6 anos na MLB, será Free Agent se seu contrato expirou e o time não lhe ofereceu um novo contrato até a “Tender Deadline” (ocorrida em dezembro).
Em ambos os casos, o jogador poderá negociar livremente seus serviços com qualquer clube da liga.

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QUALIFYING OFFER

Quando um jogador torna-se Free Agent, o último time que teve um contrato com ele tem a prioridade para fechar um novo contrato. A equipe fazer a oferta como quiser (em questões de anos e valores) ou fazer uma “Qualifying Offer”. Em anos anteriores, quando um Free Agent mudava de time, o clube que detinha seu contrato até o final da temporada ganhava uma escolha extra no draft, no lugar do novo time que o contratou. A partir da offseason de 2012/13, entrou em vigor o sistema da Oferta Qualificatória:
– Os times têm prioridade para negociar com um jogador que pertencia ao seu elenco e se tornou Free Agent, devendo fazer a oferta até 5 dias depois do jogo final da World Series;
– O valor da oferta será sempre o mesmo: um ano de contrato com o valor da média dos 125 salários mais altos da temporada anterior (em 2018, esse valor é de US$17.4 milhões).

O jogador pode aceitar e continuar mais uma temporada com a equipe.

Porém, caso não assine o contrato e negocie com outro clube, ocorre o sistema de compensação no Draft:
– O time que teve a Qualifying Offer (QO) recusada ganhará uma escolha extra entre a 1ª e a 2ª rodada no próximo Draft;
– O time que assinar com um jogador que recusou a QO de outro time perderá sua escolha na 1ª rodada do Draft. O direito dessa escolha não irá para nenhum outro time, ela simplesmente deixará de existir;
– Times que tiverem sua escolha entre as 10 primeiras posições na 1ª rodada do Draft são “protegidos”, ou seja, não perderão esse direito de escolha, mesmo que assinem com diversos jogadores que recusaram as QOs de seus clubes anteriores;
– Para que um time receba a compensação, é obrigatório que o jogador que recusou a QO tenha passado a temporada passada inteira com o clube. Se o jogador veio por uma troca no meio da temporada, mesmo que a equipe faça uma QO e ela seja recusada, não receberá nenhuma compensação no próximo Draft.

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ARBITRATIONS

Em determinados momentos, os jogadores têm o direito de passar por uma “salary arbitration”, uma espécie de revisão salarial. Para isso acontecer, as seguintes situações devem acontecer com o atleta:
1) Não ter contrato para a temporada seguinte;
2) Seu time ter lhe oferecido um contrato, porém jogador e clube não chegaram a um acordo;
3) Preencher um dos requisitos:
a) Ter pelo menos 3 anos de serviço na MLB;
b) Ser um “Super Two” (mais de 2 e menos de 3 anos na liga, estando entre 17% dos jogadores que mais acumularam dias na MLB e que também não ultrapassaram 3 anos).

No caso dessas situações ocorrerem, um jogador vai para arbitration. Anteriormente, o time havia feito uma proposta, porém o atleta não aceitou. Indo para a arbitration, o clube diz o valor que acha ser justo por um ano de contrato e o jogador diz quanto quer receber. Um juiz da MLB (“arbitrator”) decide qual dos dois valores é o mais justo e deve ser seguido. Por isso, quando um contrato do jogador expira e ele acerta com seu time um novo acordo, diz-se que eles “evitaram a arbitration”.

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DRAFT

O draft é a forma das equipes adquirirem novos jogadores, todos amadores, sem que tenham que pagar (exceto o salário e, em alguns casos, um bônus de contrato) ou efetuar qualquer troca. Para participarem do draft, esses jogadores devem:
– Ser residentes nos EUA ou Canadá;
– Nunca ter assinado um contrato com nenhum time;
– Ter concluído o ensino médio e não ter entrado na faculdade;
– Caso tenha ido para a faculdade, deve ter concluído pelo menos o terceiro ano ou ter completado 21 anos de idade.

Os drafts ocorrem anualmente e funcionam na base de escolhas (simplificando, é o mesmo método das “peladas”, em que um time escolhe um jogador e depois é a vez do outro time escolher um dos restantes). Cada uma das 30 equipes escolhe um jogador por rodada, sendo que ocorrem no máximo 50 rodadas. Para definir a sequência das equipes, leva-se em conta a classificação da temporada anterior: o time que teve mais derrotas escolhe primeiro, enquanto àquele que teve a melhor campanha na temporada regular é o último.

Após ser escolhido, o jogador tem uma data limite para assinar um contrato com o time que o selecionou. Em geral, jogadores escolhidos nas primeiras rodadas fecham contratos maiores (alguns na casa dos milhões de dólares) que, por vezes, também incluem bônus. Já os escolhidos em rodadas inferiores geralmente fecham contratos com o salário mínimo de minor league.

Uma curiosidade é que, enquanto nas outras grandes ligas como NFL, NBA e NHL, onde os primeiros escolhidos no draft tornam-se titulares e, em alguns casos, as grandes estrelas das franquias logo em seu ano de estreia, os jovens selecionados na primeira rodada na MLB muitas vezes só chegam ao time principal anos depois de serem escolhidos (e muitos jamais atingem a Major League).


7 Comentários

    • Olá Luiz.

      Não há um teto salarial na MLB. Porém, existe a luxury tax. A cada ano, a MLB estabelece um “limite” fora de impostos. Por exemplo, US$150 milhões. Se um time tiver uma folha salarial de US$160 milhões, ele pagará a luxury tax sobre esses US$10 milhões que passaram do limite.

    • Olá Luiz Felipe.

      Olha, não é nada fácil chegar à MLB, ainda mais sendo um estrangeiro. Mas a receita padrão é treinar e se dedicar muito, ter talento e um pouco de sorte também. Quem sabe você não chama a atenção de algum olheiro e fecha um contrato de free agent internacional em uma das equipes de Minor League (times de base). Daí pra frente, o jeito é mostrar seu jogo e ir avançando os níveis das ligas e, quem sabe, um dia ser chamado para fazer parte do time principal da MLB!

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